domingo, 31 de julho de 2016

A jabuticaba de Moura Castro encomendada para a educação básica e sua relação com Sergipe e seus professores: Veja!

A jabuticaba de Moura Castro encomendada para a educação básica e sua relação com Sergipe e seus professores: Veja!

Everaldo José Freire (0)

Chama-me a atenção a lembrança de que em 6 de fevereiro de 2013, em almoço, João Alves (DEM-SE) e Cláudio de Moura Castro discutiram a situação da educação municipal em uma visita de cortesia que rendeu bons frutos para a educação de Aracaju (1). Quais seriam esses frutos? Em 1º de julho de 2015, enaltece a principal Universidade privada sergipana por ter tido um estande próprio na reunião da NAFSA, em cujo editorial anteriormente relata a Universidade de Boston como pública privando o leitor desavisado do que é isso no contexto americano (2). Só para que se tenha uma ideia, muitos dos que estudaram em universidades americanas estão tendo de usar boa parte de seus rendimentos já aposentados para pagar os loans (empréstimos/créditos/financiamentos) que fizeram nessas instituições públicas, que não são nada gratuitas.  Esse artigo é para sustentar que o Sr. Cláudio, economista, faz editoriais por encomenda, aproveitando-se do fato de ser especialista em educação e que encontra quem pague (e bem) por tais encomendas, isto é, é como se ele exportasse jabuticabas sem caroços, os quais são deixados para quem enfrenta as situações pedagógicas de fato enquanto aquelas são degustadas pelos tomadores de decisão, movimentadores do erário público, e pasmem: até por “professores”!

O texto “Professor ganha mal?” pode ser explicado pelo viés do objetivismo abstrato; isto porque não se sabe a qual/is professor/es ele se refere, portanto abstrato na tentativa de construir uma tese de "não há relação clara entre o salário do professor e o que aprendem os alunos". Não duvido que isso sirva para construir uma pseudo ideia de que ganhamos muito bem para o pouco que fazemos. Antes de mais nada, é preciso que eu deixe clara a posição ideológica da qual enuncio (falo ou escrevo): a de professor da rede pública estadual sergipana sem filiação a sindicato, sem filiação a partido político, sem dever meu emprego a quem quer que seja!  No divagar de Cláudio, que presidiu a CAPES no ano em que nasci, "se todos aprendessem, os salários poderiam aumentar muito, com o mesmo orçamento". E por que os salários não podem aumentar já "com o mesmo orçamento" e estimular realmente quem está em sala de aula, já que ele reconhece que "no geral, os salários desapontam", evitando o desgaste do professor da rede em ter dois ou três vínculos? Como parece ser o "aprendizado" que está por trás de suas preocupações (o que não é articulado ao longo do texto, pois o articulista faz menções meramente econômicas: salário inicial, remuneração por hora, equação, erário, pagar, custo de vida, gastamos, pagamos, aposentadoria especial do professor, conta dos aposentados, licenças etc.), às duas perguntas finais que ele propõe a nós professores é que me detalharei: "é esse o sistema que queremos?" "Por que não reclamamos"? Por que não nos queixamos aos sindicatos?

Ou realmente a idade avançada traz malefícios à saúde mental (afinal ele tem 78 anos) e, consequentemente, à organização do pensamento ou, o mais óbvio, é tudo feito de caso pensado para denegrir grupos de profissionais que se veem acuados no exercício de suas funções e são os responsáveis pela revolução de que precisa o país. O sistema que conta com pessoas que não aprendem é o mesmo gerenciado por pessoas incompetentes do ponto de vista da gestão e do conhecimento. Quando um aluno chega ao Ensino Médio (última etapa da educação básica) sem saber ler/escrever, assim como costuma chegar à metade do Fundamental (6º ano), é muito mais por falta de gestão, que envolve pessoas capacitadas para lidar do ponto de vista da administração da escola e do aparato pedagógico em si, além da fiscalização: Projeto Político Pedagógico inexistente, regimento interno obsoleto, conselho escolar inoperante ou manipulado, má destinação das verbas públicas, inadimplência na prestação de contas, falta de cuidados com o bem público, além da infraestrutura obsoleta na maior parte das escolas: climatização inexistente ou inadequada, fiação problemática, inexistência de redes de wi fi e tecnologia que acompanhe as demandas do século XXI... Então, Sr. Cláudio, não é o professor que chega ao Colégio para dar sua aula que competem essas coisas, é ao próprio Governo ao qual o Sr. se aliou aqui em Sergipe (cujo aparato humano capenga está em cada escola para blindar sua inoperância), por exemplo, e nada de produtivo realizou. O senhor talvez nem saiba ou queira que as pessoas saibam que aquele que era Governador agora é Prefeito e não tem mais data para pagar aos professores e certamente está nem aí para o que fazem essas pessoas para pagar suas contas.

Por falar em reclamação... Ora! O economista nos toma por desvairados porque a única chance de reclamação entre oprimido-opressor é/era a greve, esta, no caso sergipano, comandada por um sindicato que está mais preocupado em aliar-se com o Governo e eleger representantes políticos do que com a própria classe. Então, reclamar a quem, queixar-se ao sindicato? Ano passado, a greve deflagrada ilegal, antes mesmo de ser iniciada, acarretou no corte de que necessitou a anistia do ponto do bondoso governador Jackson Barreto (PMDB-SE) e, só neste ano, pelo menos três pequenas paralisações estiveram em curso: uma nacional e duas estaduais. Então, não falta reclamação, mas nós não temos essa relação parental com o Governo, de conta tudo pra tua mãe do seriado Chaves... ou de almoçarmos com ele.

 Voltando à pergunta do título do editorial, a CNTE (4) rapidamente elaborou uma resposta ao texto de Castro e trouxe o salário dos docentes pelo mundo afora, em dólar, como se ganhássemos em dólar. Contrariando o que meus colegas vão dizer, porque já se criou um discurso de “coitadição” em torno do professor da educação básica independentemente de rede (federal, municipal e estadual), a resposta é não. Não ganho mal. Não entro em sala para reclamar de remuneração com meus alunos, afinal, nem são eles que me pagam diretamente o salário. Agora, se a comparação for o que ganho em relação ao que ganha um professor na rede federal (Colégio de Aplicação e Instituto Federal de Sergipe, por exemplo), aí eu repito que me sinto duplamente explorado (porque chego a trabalhar o dobro de horas-aulas em sala) e triplamente desvalorizado, pois com cerca de 12 anos de “carreira”, os docentes nessas instituições recebem, com a mesma titulação, pelo menos três vezes mais do que eu. E, venhamos e convenhamos, com o salário sem aumento desde abril do ano passado e absolutamente tudo um pouco (ou muito) mais caro: comida, água, luz, telefonia, condomínio, IPTU, IRRF, IPVA etc. Então, embora não ganhe mal, reconheço que o poder aquisitivo do professor estagnou e está em condições desfavorabilíssimas em relação a profissionais com as mesmas características em outra rede na mesma cidade, no mesmo estado, no mesmo país. Assim, enquanto alguns chupam a jabuticaba (em alusão à metáfora usada pelo autor em um de seus textos), outros ficam só com o caroço. Sim: eu me sinto com o caroço...

(0) Professor com mestrado que enfatiza as relações de poder no discurso, lecionou em Timor-Leste, Estados Unidos e Cuba, foi bolsista da CAPES e da Fulbright/IIE, atualmente leciona para o Ensino Médio Inovador, é membro do conselho escolar do colégio onde trabalha, que preside, e supervisiona bolsistas de Pibit Jr/Fapitec/CNPq. É associado à SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e membro da USBEA SE (United States-Brazil Exchange Alumni in Sergipe).

Algumas webreferências:














06/02/13 - 16h32
Prefeito discute melhorias para a educação com Cláudio de Moura Castro
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Fotos: Sergio Silvaclique para ampliar
Em almoço, João Alves e Cláudio de Moura Castro discutiram a situação da educação municipal
Um convite, uma resposta positiva e uma visita de cortesia que rendeu bons frutos para a educação de Aracaju. Assim foi o almoço entre o prefeito João Alves Filho e o colunista da Revista Veja, Cláudio de Moura Castro, realizado na tarde desta quarta-feira, 6.A secretária municipal de Educação, Márcia Valéria, também participou do encontro.
Convidado pelo prefeito, Cláudio é um especialista em educação e trouxe consigo experiências que irão contribuir para a gestão educacional da capital sergipana. O prefeito, por sua vez, destacou a importância de contar com a contribuição de uma personalidade que fez e tem feito muito no âmbito de pesquisas e incentivos na área.
"Cláudio é um guru da educação. Quando o convidei, tive em mente colher ideias e sugestões para a nossa educação. Nós temos muito o que aprender com ele. Só nesse almoço ele já nos deu várias ideias interessantes que pretendemos colocar em prática", destacou o prefeito.
João Alves ressaltou também que o convite tinha como foco principal o desenvolvimento da educação municipal. "Tendo em vista a sua vasta experiência em educação, não poderíamos ter uma autoridade melhor e com um sentido muito prático de como se alcançar qualidade de ensino nas escolas públicas. Por isso fiquei extremamente agradecido quando ele aceitou o meu convite. Essa conversa me abriu ainda mais os horizontes para um modelo satisfatório de gestão educacional", salientou João Alves.
Para o colunista, foi um agradável encontro que pode render planos positivos para a educação pública na capital. "O que percebo é que Aracaju viveu, nos últimos anos, uma queda considerável no nível de educação pública. O município já fez muitas coisas positivas em relação à educação e acredito que é preciso se alavancar um novo salto, para que a área alcance novamente o nível que já teve. Acredito, veementemente, que a gestão de João Alves pode ser esse salto que Aracaju precisa", considerou Cláudio de Moura Castro.
O colunista aproveitou a oportunidade para ressaltar a preocupação do prefeito para com a educação. "Sou amigo de João há longos anos e, independente disso, percebo que ele é uma pessoa extremamente preocupada com a educação. Ele tem um compromisso histórico com a área e vem cuidando disso de maneira muito focada, e isso pode ser provado tomando como base a época em que foi governador do Estado. Como prefeito, sei que ele tem a mesma vontade de fazer o positivo", concluiu.
O colunista
Cláudio de Moura Castro é um economista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Tendo se pós-graduado e se tornando mestre em economia, Cláudio já teve passagem pela Universidade de Harvard (EUA) no curso de Filosofia e Desenvolvimento Político. Doutor pela Universidade da Califórnia ele também é Ph.D em Economia pela Universidade Vanderbilt.
Tendo em seu currículo diversas experiências em universidade brasileiras e também do exterior, Cláudio possui, por exemplo, a experiência de ter ministrado um curso voltado para educação e desenvolvimento na Universidade de Genève e também na Université de la Bourgogne.
Atualmente chefe de Divisão do Programa Social, Departamento Sustentável, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e presidente do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras, Cláudio de Moura Castro já teve 39 obras publicadas entre livros e monografias, além de ser colunista da Revista Veja desde 1996.