domingo, 10 de maio de 2015

A condição desumana do professor da rede estadual sergipana

É cada vez mais indignado que leio certas matérias. Leia-se indignação como olhar crítico, indispensável a qualquer ser pensante, visto que a intenção da mídia é formar opinião em torno de assuntos cujo viés ela manipula em detrimento de uma imparcialidade, inexistente vinda de um dispositivo governamental, e veracidade implacável à prova de qualquer constatação.

Assim sendo, é necessário ir aos fatos e levar em consideração a assertiva de Simone de Beauvoir:  “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.”  Mencionar oprimido não é vitimizar-me ou achar que eu ou qualquer outro professor da educação básica estadual ou municipal seja estropiado ou coitadinho, tampouco uma tácita aceitação da lógica marxista da relação entre opressor e oprimido; pelo contrário, é entender-se singular na pluralidade, tal qual proposto por Hannah Arendt em A Condição Humana.

Para Arendt, “o discurso corresponde ao fato da distinção e é a efetivação da condição humana da pluralidade, isto é, do viver como ser distinto e singular entre iguais.” Desse modo, na vita activa, vivo minha inquietude, desassossego, ocupação que é, ao menos, escrever para sentir-me verdadeiramente “livre” e é nesse esteio a noção de indignação, que para os partidários de que tudo na rede estadual está (a um passo de) um Éden, pode parecer inveja ou, modernamente falando, recalque.

Antes de prosseguir, gostaria de agradecer aos colegas e amigos (de profissão e da vida) que têm lido este espaço, tanto pelas 3.161 visualizações, quanto pelas palavras de encorajamento e hombridade acerca do que é relatado aqui.

Ao abrir meu webmail da Secretaria de Estado da Educação, deparo-me com a seguinte manchete:  Professor da rede estadual cria projeto pioneiro que prepara alunos para o ENEM, datada de ontem (09-05-2015). Seja porque viva em uma relação estável com o exame desde 2006, seja porque é interessante prestigiar ações que deram certo, li e reli a matéria e conversei com alguns colegas de profissão acerca do conteúdo ali florilegiado – desconsiderando, obviamente, os espinhos... Ah, os espinhos!!!

Primeiramente perguntei-me porque levara dez anos até o professor colocar em prática um sonho (sic!) de ensinar “literatura, redação, música, produção de textos, entrevistas, gravação de programas e interação com as redes sociais”. Sinceramente não sei se é o jornalista que escreveu isso ou a inocência do sonhador, que finalmente realizara seu sonho (e como sonhar é importante!!!), o desvinculamento das “coisas” desarticuladas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (de Língua Portuguesa), por exemplo.

Música, por exemplo, é uma disciplina para ser lecionada por licenciados em Música e a UFS já vem há algum tempo com um PIBID nesse sentido, cuja supervisão assumi por quase um ano no Colégio de Aplicação. Jamais faria eu o que aqueles bolsistas eram capazes de fazer.

Quanto à interação com as redes sociais, há alguns bons anos, a DITE tem oportunizado o curso Tecnologias na Educação: ensinando e aprendendo com as TIC, que fiz no laboratório da Escola Tobias Barreto há vários anos. Perguntei-me o porquê de, após tantos professores certificados, entrega de tablets da POSITIVO defasados, ninguém havia “pensado” em tal projeto “pioneiro”.
Segundo nosso léxico, pioneiro é “aquele que primeiro abre ou descobre caminho através de regiões desconhecidas”, mas desconhece a Olimpíada de Língua Portuguesa e suas inúmeras edições o professor em tela ou o jornalista da SEED? Não sabem esses indivíduos que a própria Olimpíada, através do CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária e sua Comunidade Escrevendo o Futuro, oferece formação para projetos de multiletramentos e que estes, com todo respeito ao conterrâneo e quiçá parente distante Paulo Freire, têm sua origem no Grupo da Nova Londres e são baseados em três pilares: prática de letramento local (o interesse dos alunos), gêneros (entrevistas, crônicas, memórias, poemas etc ) e multimodalidade, ou seja, combinação de diferentes linguagens, atrelando assim empoderamento de um instrumento (o gênero) através de elementos culturais e da linguagem mista?

O objetivo de preparar o aluno para o ENEM é algo que deve ser tomado ao longo de toda a formação do indivíduo. É como semear no deserto fazer isso no terceiro ano. É como desperdiçar  dinheiro, como vem fazendo o Governo do Estado com o Programa “político-partidário” Pré-Universitário ligado ao DASE. Por que desperdício do erário? Porque esta formação deve ser feita ao longo de toda a formação do indivíduo – reitero e não numa etapa em que ele já vota e pode servir para fins estatísticos. Quando o modelo de ingresso nas universidades, antes do SiSU ainda era o vestibular, certamente umas boas dicas de resumos de livros, fórmulas, aulas de redação etc funcionassem, mas os tempos mudaram e com eles a educação, não.

Curiosamente, também há 10 anos que estou na rede estadual. Da sala que assumi em novembro de 2005 para hoje em dia, quase nada mudou ou mudou para pior. As salas continuam as mesmas com novos alunos e mais alunos (há turma onde tive 55 alunos matriculados – possuo exatamente 268 alunos), contrariando a cifra de 120 alunos do professor do “projeto pioneiro”. Esses 120 também correspondem a 03 turmas de 40 alunos, visto que são 04 aulas de língua portuguesa por semana; portanto, metade da carga horária obrigatória de um professor com esse tempo de experiência na rede estadual.

Como acredito que uma educação de qualidade não se faça dando condições especiais de trabalho a indivíduos diferentes, ou mente a matéria ou mentiu o professor e o sonho, invés de real, é idílico e para a mesma tende a convencer a população de que basta apenas inovar e de que o problema está com e no professor. Basta inovar e os problemas da educação acabaram...

Não sabem vocês que a sala de aula de 10 anos para cá nada mudou, exceto essa do professor do D. Luciano, talvez desconheçam que superlotam salas de aula onde é praticamente impossível transitar por entre os alunos, dando-lhes alguma assistência, que a refrigeração também é um luxo apenas da sala de aula dessa instituição, pois, carinhosamente onde trabalho, dizemos que estamos em uma sauna e, por estarmos sem trajes adequados, passamos mal.

No último ranking divulgado pelo INEP, o de 2013, apenas uma instituição pública (federal) mineira aparecia dentre as 30 melhores instituições do país, das 30 sergipanas, apenas duas (também federais) aparecem como boas: Colégio de Aplicação da UFS e IFS-Campus Aracaju. O Éden em tela ficou em 8.118º no mesmo ranking com uma média 495,70. Realmente, muito melhor que o 11.991º lugar que obteve a instituição onde trabalho, carinhosamente chamada de Calor e Selva.
Como uma educação de qualidade não deve ser para um grupo seleto, mas para a grande maioria, dados do INEP referentes a 2013 no tocante à produção de textos revelam que no Éden se obteve uma média de 549,88 e 496,08 no Calor e Selva, ambas aquém do mínimo esperado pelo INEP – 600,00 para que se fique no nível 3, considerado bom (de 5 – tido como excelente). Disso, deduzo que, de fato, estudar no Éden é mais profícuo que no Calor e Selva.

Sim, Dª Seed e Sr Secretário de Estado da Educação, nós sabemos tanto pensar, refletir e contemplar, quanto nos afastar da vida activa também, deixando nossa condição de escravos (na concepção grega) e desumanizados em matérias como estas, que elevam à categoria de super-herói uma ficção bem bolada, à condição de homens e mulheres que sabem como mudar a educação e torná-la de qualidade, mas não há respaldo estrutural (salas superlotadas e quentes), didático (ambiente escolar sucateado e nada moderno) e financeiro (vocês, afinal, confundem piso com teto e se negam a conceder o reajuste de 2012 e o de 2015). Não me admira que a gente queira lhes mostrar o ouro no fim de arco-íris, mas vocês só queiram ver a fachada da escola pintada e o ponto eletrônico implementado. Muito me admira que o Ministério Público ainda não tenha determinado o cerramento das portas de alguns estabelecimentos até que tenham plenas condições de funcionamento.

Espero sinceramente que o professor que realizou seu sonho possa contribuir para que alunos realizem o deles, pois ainda acredito que a escola cumpra sua função social quando sirva de ponte entre o sonho e a realidade. 

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Vozes insulares



Vozes que ecoavam
hoje finalmente se materializaram

Vozes de quem recém-conheci
com a certeza de que conhecera de há muito

Vozes de pessoas reais
mas cujo ilhamento impossibilitava o intenso contato

Vozes que jamais vou esquecer
visto que suas silhuetas estão indelevelmente em meu coração

Vozes medicinais internacionalistas
que singram mares para dar alento à gente cuja esperança se perdera

Vozes estrangeiras cosmopolitas
e que falam a língua da cura, do amor, da cortesia e da interminável amizade

terça-feira, 5 de maio de 2015

A insustentável contradição do "professor"

Em resposta a Ramalho - sociólogo da UFS e seu interessante artigo Professores ou vampiros?

Em momento algum José Rodorval Ramalho se intitula ou se autoafirma como professor, exceto um asterisco que remete ao fato de considerá-lo sociólogo e professor da UFS ao final de seu artigo.

De acordo com o currículo Lattes dele, atualizado há quase 3 anos (sic!), na instituição na qual ele chegou mestre e está há quase 20 anos em regime de dedicação exclusiva, supostamente há mais de 10 anos no Colegiado de Ciências Sociais, tendo uma vasta publicação no jornal mais popular (sic!) sergipano, ele é, pasmem, professor!

Exatos 10 anos após a chegada de Ramalho à UFS, assumi função no posteriormente cindido Departamento de Letras (DLE) da UFS, que acabara de voltar de uma longa greve - ponto fulcral no artigo de opinião dele em relação aos "professores brasileiros" que, segundo ele, se deixam "vampirizar" por uma "horda de sanguessugas" - os "sindicalistas" que usam-nos como "bucha de canhão" e se refere mais especificamente aos episódios vividos em território peessedebista paulista ("apoiado apenas por uma pequena parcela da categoria") e paranaense, onde, na visão deturpada dele, os protagonistas envolvidos naquele episódio, "ELES queriam um cadáver, um mártir" e que a polícia, "felizmente, agindo dentro da lei, defendeu o parlamento...", pois esses "professores" seriam uma "turba de delinquentes".

Afinal, esse professor que escreveu isso não é professor? Ou ele só é professor para receber seu salário? Ele não se envergonha de tratar a "categoria" com tamanho desprezo e descontexto sócio-histórico-crítico? Por acaso, quando assumi em 2006, não estava ele em greve na UFS? Ou as greves da UFS são mais legítimas do que as dos professores estaduais ou municipais?

É desprezível a visão de um professor doutor que, embora não seja o caso, em início de carreira receba R$ 8.800,00 (em detrimento do piso da educação básica de 2015 em R$ 1.917,78), envolva-se em greve e fale tão aparentemente sem conhecimento de causa de outro professor que seja sindicalista ou ativista sindical. Isso beira à anti-ética profissional.

E por falar em sindicalistas, passado primeiro contrato na UFS, a partir de 2006, em 2013, ao voltar dos Estados Unidos, assumi função no Colégio de Aplicação, também da UFS, e, coincidência ou não, é de lá os dois sindicalistas representantes máximos seja de docente, seja dos técnicos. Um deles inclusive foi proprietário e morador onde resido e possui uma conduta ilibada. O outro, idem; ambos geógrafos. Francamente, não sei que tipo de destemperamento faz um professor universitário escrever tanta bobagem generalizada sobre outros cuja categoria ele deveria solidarizar-se e apoiar. Isso é o mínimo que se espera de um ser humano.

O senhor Ramalho afirma que "o maior PRIVILÉGIO é o amplo direito de fazer greves sem desconto de salários" e se pergunta até quando legisladores permitirão que isso seja possível. Estaria o dotô sugerindo o cerceamento do direito de protestar? Até porque, embora outros grupos sociais façam greve, o professor é o único a ter de repor dias não trabalhados.

Por acaso, gostaria o professor de ter de trabalhar dobrado por ter sido licenciado para fazer seu doutorado em São Paulo sob os auspícios do governo federal? Então: quando gente assim devolver o que recebeu, talvez consiga o mínimo de comoção em gente como eu, que trabalha semanalmente 24 horas, que traz material para corrigir em casa, que planeja suas aulas e não as pauta em besteirol ou faz da sala de aula uma apologia ao anti-petismo ou qualquer outro partido, logo, uma explícita estratégia de incitação ao ódio, ao invés de desvencilhar o que está por detrás do que é dito.

O título da minha postagem é uma quebra total de expectativa de horizonte da obra de Milan Kundera de 1984, época que marca a metade da graduação de Ramalho. Ele não viveu a Primavera de Praga de 1968, tampouco a Árabe de 2011 ou nosso atual outono, ao que tudo indica... Embora Kundera admita que a existência humana carregue ao mesmo tempo leveza e peso, o professor só enxerga este em detrimento daquele. Parece-me que ele deva amar mais e deixar a política um pouco mais de lado ou dosar as duas coisas a fim de tornar-se mais produtivo e refletir um pouco mais antes de escrever suas ideias.

domingo, 3 de maio de 2015

Estamos acordados, Rania Rego!

O respeito de uma sociedade ignorante vem a socos e pontapés, como na época da ditadura, em que, numa sala de aula, se podia colocar um aluno de castigo. A educação de qualidade para nossos brasileiros virá com a canalização dos recursos para os seus devidos fins e isso inclui escolas modernas, que não pareçam sistemas prisionais, profissionais bem remunerados e gestores que entendam que o quintal de suas casas não tem nada a ver com essa escola do século XXI.

Uma breve resposta para Rania Rego de http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/professores-acordem/

Quem gosta do modelo cubano é porque ele é o único da América Latina e Caribe que deu certo, porém nós não deixamos de entender que vivemos em democracia e o povo cubano, em ditadura. E nós sabemos que não queremos uma ditadura, logo, embora almejemos os resultados de Cuba, queremos construir nosso próprio modelo.

A educação brasileira [pública] só vai avançar quando os grupos sociais oriundos dos meios mais abastados estiverem a usufruir dela. Até porque sabemos que mesmo a educação brasileira ofertada nas escolas privadas sequer chega a patamares consideráveis comparáveis a de países desenvolvidos, cujos índices articulistas costumam mencionar em suas matérias.

Em Cuba e outros [poucos] nichos "comunistas" ao redor do globo, não existe um hospital para quem tem menos dinheiro ou uma escola para quem tem mais dinheiro; mesmo assim, há elites fortes que controlam e sufocam o povo e cerceiam direitos mínimos. Lá também não se oferece ensino regular noturno ou se matriculam 60 alunos numa sala de aula com pouca ou nenhuma ventilação. Lá há dois professores (por sala), materiais essenciais para as aulas, controle, disciplina e laboratórios.

Ainda sobre Cuba, em média, o vencimento é muito menos da metade do que a matéria “Professores, acordem!” informa, não sei se é porque a autora da matéria sensacionalista nunca foi à ilha ou porque sua formação em jornalismo a faz reduzir o mundo a números, que não correspondem à realidade. O gigante vizinho também não oferece ensino regular noturno e dispõe de tecnologias de ponta para atender a uma necessidade da atualidade - as mídias. Mas paga, em média, U$D 3,300.00 a um professor da educação básica, que certamente não tem 2 ou 3 empregos.

Nossa educação é pensada verticalmente e recebemos pacotes para aplicá-los. Quem nos representa quer resultados, mas não adéqua a infraestrutura. Quem pensa por nós não conseguiria ficar uma manhã inteira nas salas de aula onde trabalhamos e faz suas mirabolantes pesquisas a partir de gabinetes com ar-condicionado, boa internet e bolsas de pesquisa isentas de imposto de renda, além de receber salários que são 3 vezes, em média, mais pomposos que o do professor médio brasileiro.

Acreditamos que você use o termo "discurso" de maneira vaga e genérica, tão vaga e genérica quanto seus argumentos falaciosos para convencer uma elite que compra a revista para a qual escreve e forme uma opinião errônea acerca do professor "médio" brasileiro. A senhora mistura coisas imisturáveis e chega a receitas que beiram o ridículo.

Quando, num contrato de 20 horas, leciono 08 tempos de 50 minutos com no máximo 30 alunos em sala e recebo quase a mesma coisa por 24 tempos lecionados e 60 alunos em cada uma dessas salas, a senhora há de convir que essa matemática obedeça a números multiplicativos e que há uma drástica diferença entre professores médios. Afinal, de quem a senhora está falando? Porque sua fala não representa o professor médio brasileiro.

A senhora Rego não cita em suas matérias que nossos gestores foram colocados por nossos governantes, que foram eleitos, muitas vezes, através da manipulação de uma generosa parcela da população que vai às urnas para escolher, mas a educação ofertada não contribui muito para formar uma opinião e que as elites, que compram sua revista, já têm seus candidatos e só podem ser aqueles que representem seus interesses.

Essa mesma elite acha um absurdo que o filho da empregada, cujo salário mínimo acha outro absurdo ter de pagar, curse, por exemplo, Medicina com seu filho, pois este curso, e mais meia dúzia deles, é naturalmente deles. Em Cuba, não se pode escolher governante, mas qualquer um pode ser médico.

Esse discurso de vitimização de nossas lideranças ao qual vagamente a articulista se refere nada mais é que atender a interesses de políticos em prol de alianças para conseguir um espaço na corrupta política brasileira, à qual a senhora nunca faz menção alguma.

Por que será que os mesmos professores que estão na escola privada são aqueles selecionados para as escolas públicas? Quem é coitadinho, estropiado e maltratado e quem é competente e comprometido nesse jogo de palavras? Por acaso, o professor que leciona nas duas redes deixa de ser a mesma pessoa?
Por que a senhora não se refere à greve dos bancários ou à dos médicos, que não precisam repor dia algum de trabalho? Fazemos greve porque sabemos que vivemos em democracia, é um aparato legal e é papel do Governo encontrar quem nos substitua para os dias não trabalhados, afinal greve e férias são coisas bem díspares. E até nas férias as leis acobertam o funcionário público gozá-las e receber com 1/3.

Sendo uma jornalista, muito nos admira que não reconheça que as coisas estão em constante mudança e que o que se comprava com um real logo após a URV de 1996 sequer dá para comprar hoje. A senhora faz de conta que desconhece que os recursos que vêm para nós não são destinados corretamente, pois nossos gestores não têm formação suficiente para entender uma escola como uma empresa, mas a extensão de suas casas.

Assim, a senhora desconhece que piso não é teto e mistura as coisas, não cita, por exemplo, que, em Sergipe, não se pagou o percentual de reajuste de 2012 de uma lei federal e o mesmo está acontecendo em 2015... Ainda, naturaliza o inaturalizável, prestando um desserviço à população brasileira que lê suas porcarias com fome de crítica a um governo que nos últimos 12 anos tem ampliado o acesso à educação.

Gananciosos nós professores? A senhora sabe quantos de nós têm uma jornada de 24 horas (1 vínculo), 48 (2 vínculos) e até mesmo um terceiro vínculo numa instituição privada? Ambição desenfreada de ficar rico, de obter lucros, legal ou ilegalmente? A senhora só pode estar de chacota com o mais néscio dos seus leitores...

É preciso ser um cretino intelectual para imaginar que uma pessoa ganhar mais faz outra aprender mais. O que esses estudiosos da área deveriam saber é que vivemos no século XXI e que a sala de aula continua como a do século XVIII no Brasil. Que diferença entrar numa sala de aula americana ou cubana!!! Ou a senhora não sabe comparar?

A senhora sabe por que faltamos? Quais são nossas necessidades? O que é dar 48 tempos numa semana? Claro que não!!! Se uma disciplina tem 1 aula só por semana, se cada sala tem 60 alunos, o professor precisa pegar 24 turmas, use a calculadora para perceber com quantos seres humanos essa pessoa lida... Nós vivemos um sério problema curricular e de gestão, mas não de má vontade ou falta de profissionalismo, afinal fomos selecionados através de concurso público. Nós não devemos nossos salários a empreiteiros, empresários ou favores políticos.
Quanto a suas "teses" finais: somos tratados como anencéfalos e ao reagir pode acontecer o que houve no Paraná, cuja menção não vemos em matérias como a sua - o que me faz refletir que a senhora é uma pessoa desinformada e que escreve com outros propósitos.

A segunda tese está diluída ao longo de meu texto que a "luta" não é só por salário, mas se um profissional trabalha 3 vezes mais com o dobro de alunos e recebe a mesma coisa entre redes de ensino públicas diferentes há algo muito nefasto em jogo.

Sua terceira tese é igualmente contraditória. Por exemplo, que contribuição tem seu texto de jornalista a dar para a melhoria da educação brasileira? Nenhuma. A senhora não nos brinda com absolutamente nada novo, ataca por atacar, ignora processos sócio-históricos e interesses politiqueiros em nosso país e sequer cita as razões pelas quais vários Estados estão em greve há meses. Em um deles, inclusive, recentemente, o Governador se elegeu prometendo dobrar o salário dos professores. Aqui em Sergipe isso não funcionou na transição do então Governador João Alves para Marcelo Déda. A senhora há de convir que uma Pátria Educadora se faça também com educadores e não com gente mentirosa.

Em relação à quarta, apesar de já ter, por duas vezes, mencionado a grande diferença entre salários em duas redes públicas, quando a senhora provar para onde onde está destinando seu salário, se é para instituições de caridade ou o raio que a parta, talvez alguns de nós - os mais ingênuos - sigam o mesmo exemplo e passem a ir ao trabalho a pé, comam apenas raízes e vistam roupas feitas de material biodegradável. Porque foi só isso que a senhora faltou mencionar nessa porcaria de texto.

O respeito de uma sociedade ignorante vem a socos e pontapés, como na época da ditadura, em que, numa sala de aula, se podia colocar um aluno de castigo. E nós não queremos essa época nefasta, que assegura a qualidade nas escolas federais militares. A educação de qualidade para nossos (sic! - eu não sabia que a senhora ou alguém que lê essa revista tem filho em escola pública) brasileiros virá com a canalização dos recursos para os seus devidos fins e isso inclui escolas modernas, que não pareçam sistemas prisionais, profissionais bem remunerados e gestores que entendam que o quintal de suas casas não tem nada a ver com essa escola do século XXI.