segunda-feira, 1 de maio de 2023

Dia dos Trabalhadores - de São João-PE para a vida...

Terça-feira, 1 de março de 1994, o município de São João tinha então 35 anos, dos quais 14 eu, meus pais, angelinenses da Palha e do Pery-Pery, e meu irmão, Eraldo, já vivíamos por ali, ou seja, desde 1980...

Cunhada, mãe e sobrinha, em Aracaju-SE, anos depois, e a carteira de trabalho assinada em 1994.

Naquela data, oficialmente fui contratado como "Estagiário" pela Associação Joel Carlson de Assistência Social, sediada em Recife, capital do Estado onde nasci, Pernambuco. O "estágio" foi na agência de Correios da cidade, que funcionava no histórico prédio da "estação", que é provavelmente o mais antigo da cidade, por datar de 1887, ou seja, ainda da época do Brasil Império e também de quando ainda era Ditrito de Garanhuns, onde nasci.

Eu tinha, então, 14 anos, muitos sonhos, muita vontade de vencer na vida... Minha família morava ao lado do histórico casarão que fora demolido para a construção de um posto de gasolina e diagonal à estação. Eu havia planejado cursar o científico (atualmente ensino médio, mas 2º grau na época) no Colégio Jerônimo Gueiros, cursar inglês e fazer um curso técnico, o Contabilidade. Nem sempre o que a gente planeja acontece, mas deixar de planejar é deixar-se vulnerável a qualquer eventualidade.

Tendo em vista os planos que conciliassem os estudos, a única maneira de incluir o inglês foi matricular-me no Colégio Municipal Padre Agobar Valença, ao lado do terminal do rodoviário de Garanhuns, de cujo tempo uma das únicas lembranças é a maravilhosa professora de inglês, Maria de Lourdes Magalhães Guimarães, que falava apenas em inglês, na aula de inglês à noite. 

Excetuando a segunda-feira, tradicional dia de feira em que as pessoas dos sítios vinham saber se seus parentes, que moravam foram, haviam escrito cartas, os demais dias da semana, de segunda a sábado, eu trabalhava também entregando cartas - como carteiro. As cartas eram a principal comunicação entre as pessoas de São João na década de 90 com as demais que não moravam mais lá. Raramente uma pessoa tinha linha telefônica, pois era extremamente cara. A outra forma de comunicação era ir à Telpe, onde trabalhara Lucy, ali nos fundos da Prefeitura Municipal (Palácio João de Assis Moreno) ou comprar a ficha e colocar no orelhão e tentar a sorte.

Na Agência dos Correios, em São João-PE, na década de 90.

Voltando ao meu trabalho, começava às 8h e findava às 18h... Não me perguntem como eu estava pronto às 18h15 para pegar o ônibus que nos conduzia a Garanhuns. Foram tempos de muita, muita correria... Eu não voltava para casa antes das 23h e, por morar tão perto do trabalho, "do outro lado", não raro pegava o malote. Esse malote vinha no ônibus da JOTUDE, não tinha hora para passar, então eu o esperava como quem coloca leite no fogo e torce para não derramar... Para garantir essa oportunidade, pegar esse malote e fazer entregas de cartas já fazia parte de minhas tarefas muito antes.

Além das 8 horas diárias, trabalhava também aos sábados das 8h às 12h, afinal, para o progresso do país, alguns precisam trabalhar... Contava, então, 44h de trabalho, aos 14 anos... À tarde de sábado, quando não cursava francês ou informática, ou espanhol, em Garanhuns, fazia os trabalhos da escola e as atividades de inglês.

Durante esse tempo, lembro-me como se fosse ontem, ter encontrado Ilze, neta dos saudosos Antonio e Inês Moura, e por saber, pelos cartões postais, que ela morava nos Estados Unidos, falei em inglês com ela. Foi uma amizade que dura até hoje. Não só com Ilze, mas também com Jenizi e com o saudoso Zé Moura, pai de Juliana, com quem fiz Letras, e de Pedro Moura.

Meu trabalho consistia em ajudar Carlos Gonzaga Pitanga da Silva no dia de segunda, lendo todos os nomes de um determinado sítio, em escaninhos logo após o balcão (como na foto acima), e nos demais dias fazer entrega de cartas, telegramas e encomendas pela cidade. - Vaca Morta, Várzea do Barro, Várzea da Salva, Gambelo, Gameleira, Breginho, Aroeira, Santa Rita, Matão, Saco do Tigre, Olho d´Água de Dentro, Olho d´Água dos Alves, Olho d´Água do Meio, Frexeiras, Volta do Rio, Tiririca, Capim Grosso, Riacho, Azevém, Riacho do Umbuzeiro... eram inúmeros os nomes dos sítios e fui me familiarizando com esses topônimos todos.

Saía da agência, passava pela rua de D. Noemia, passava pela casa de Seu Lula Cordeiro, seguia reto e não raro encontrava a saudosa Olívia Barbosa com seu jornal, passava pela rua do Cespe, pegava a Augusto Peixoto e a Manoel Rodrigues até o fim, pois uma freira francesa bretã, Marie Thérèse Dreyer, morava ali e costumava receber correspondências. Ou fazia a Joaquim Pereira dos Santos, incluía a Liberdade, com a Cel. João Fernandes (avô ou bisavô do saudoso Antonio de Pádua Maranhão Fernandes) e pegava à direita do açude municipal para a rua de Horta e da Linha para seguir pela Olegário Valença e pegar a Antonio Vilela (no Planalto).

O Planalto, nesse tempo, além dessa avenida, com a Delegacia Civil, já tinha o Cemitério, contava com a Nelson Rodrigues e 3 ruas após o cemitério, sendo curiosamente uma delas com nome de mulher - uma Zoby - parente da querida Rosa Zoby, prima de Antonio de Pádua - que foi diretora na escola onde fiz meu curso primário - Escolas Reunidas Coronel João Fernandes da Silva.

Além do Planalto, tinha também o Parque Alvorada, com umas 6 ou 7 ruas... E só! Não existia Parque Brasília... Aliás, a caixa d´água estava lá, sob os cuidados de Didi... mas o fluxo de correspondências não era significativo. Sucedi Alexandre José de Lima, com quem estudei na Escola João de Assis Moreno, nos bons tempos do diretor João Bosco de Barros Porto.

Isso significa que, dentro de apenas 10 (dez) meses, completo oficiais 30 (trinta) anos de trabalho formal comprovado. Mas comecei antes, ajudando o finado Amauri no Açougue Público e a irmã caçula de minha mãe, tia Nivalda Freire (casada com meu primo-tio Antonio), no bar-restaurante que ela tinha, além da venda de doce de mamão nas manhãs de segunda.

Minha CTPS - Carteira de Trabalho e Previdência Social - tem alguns registros: (1) "Estagiário" da Associação Joel Carlson de Assistência Social; (2) "Professor" da Sociedade Garanhuense de Cultura Inglesa Ltda, tradicionalíssima escola de idiomas "CULTURA INGLESA" de quando estava localizada à Praça Souto Filho, 101, em Garanhuns-PE, admitido em 01/agosto/1999, de onde saí para ir cursar o Mestrado na Universidade Federal de Pernambuco em 2001; (3) "Professor", em Torrões, Recife, admissão em março de 2003; (4) "Professor de Literatura", em abril de 2009; (5) "Professor" da SESPS - Sociedade de Ensino Superior e Pesquisa de Sergipe, a adorável Faculdade Tobias Barreto, em 2011; (5) "Professor Adjunto N1" da Sociedade Educacional e Cultural Sergipe del Rey LTDA, localizada à Rua Laranjeiras, 1838, em Aracaju-SE, admitido em maio de 2017 - ano muito divisor de águas em minha vida. Não constam na carteira de trabalho meu tempo de experiência na Universidade Federal de Sergipe (UFS), no Colégio de Aplicação da UFS, no Instituto Federal de Sergipe (IFS) e, principalmente, no Estado de Sergipe, onde vim viver em 2005. Também não constam meus serviços prestados a um educandário particular em São João, onde iniciei com crianças, nem o CCAA de Garanhuns. Também não foi serviço registrado em carteira meu trabalho em 4 Universidades estrangeiras.

Pelo número de ocorrências na função de professor, não é surpresa que eu tenha seguido essa profissão que me possibilitou registro antes mesmo de minha formatura em 2000. É o meu sonho de criança, ao ouvir tantas estórias e histórias narradas por minha mãe (falecida em São João em 2017), que curiosamente me alfabetizou sem o saber, pois fui para a escola pela 1ª vez já lendo e escrevendo sem frequentar escola. Por ter lido todos os livros da Bilioteca Pública Erasmo Bernardino Vilela (1º prefeito de São João), por brincar de professor, por ter desde a adolescência minha própria biblioteca. 

Essa profissão também possibilitou a realização de sonhos: realizar-me, ajudar meus pais, principalmente minha mãe quando mais precisou, conhecer o mundo...

Então, no Dia do Trabalhador, de trabalho e trabalhar, eu entendo (e muito bem)!

* Atualmente, é professor da educação básica do Estado de Sergipe (SEDUC), na função de Coordenador Pedagógico (CEIP/DEA), professor tutor do curso de Letras - Inglês (CESAD/UFS) e estudante bolsista na prestigiosa Aliança Francesa, em Aracaju-SE, onde reside.