Ao pensar em Panelas, três coisas me vêm à mente: história, cultura e genealogia. Do ponto de vista histórico, é preciso a gente entender a Guerra dos Cabanos. Do ponto de vista cultural, o festival nacional de jericos e, por último, e não menos importante, algo de minha origem (ascendência) que ecoa... É comum a tia Geralda Freire, com quem costumo mais conversar pelo entusiasmo e vibração em sua voz, quando falo coisas do passado, dizer o papai (Antonio Freire) dizia que a mãe dele tinha família em Panelas (de Miranda).
Do meu avô materno, de quem carrego o Freire, tenho o pouco e afetuoso convívio, pois ele faleceu antes que eu completasse 7 anos e também minha mãe e treze tios de seus dois consórcios, nossa maior riqueza...
Hoje, transcrevi uma ata de criação de um clube republicano, na Panelas de 1890, a qual está integralmente ao final desse texto, mantive a grafia da época, e reconheci, após alguns anos de pesquisa, o pai do avô de meu avô - Melchiades Pulpino Freire de Carvalho. Com o filho dele, Luiz Freire, meu avô chegou a ter contato, mas com o bisavô, Melchiades, que aparece nesse documento, não, pois ele faleceu em 1905 (e meu avô Antonio Freire nasceu 5 anos depois), conforme:
Peço licença a quem estiver lendo para explicar essa nota de falecimento com convite para missa em sufrágio da alma de meu tetravô (tataravô), ou 4º avô, Melchiades.
Melchiades Pulpino Freire de Carvalho cc. Maria Velloso de Carvalho (nascida Velloso Freire) foram pais de:
Narciza de Barros Velloso da Silveira (nascida Velloso de Carvalho) cc. João de Barros Velloso da Silveira
Rachel Velloso de Carvalho
Elvira Velloso de Carvalho Cabral (nascida Velloso de Carvalho)
Luiz Pulpino Freire de Carvalho (meu trisavô, ou 3º avô ou o avô de meu avô materno)
Percebam que, na nota, dia 30, quando se celebrou a missa na igreja de Canhotinho, já se passaram sete dias de seu falecimento. Portanto, ele faleceu em 23/06/1905. Que sua alma descanse em paz. Em outra oportunidade, destrincharei melhor sua família imediata, com sua mãe, Isabel Candida Freire, e seus irmãos.
É importante que o leitor saiba que, no início do século XX, Panelas, Canhotinho e Palmares formavam um bloco, cuja comarca era a cidade de Palmares. Logo, não é nada estranho que Melchiades e Marcolino, pais de Luiz e Caetana, pais da mãe de Antonio Freire, tenham se tornado amigos, com ideais similares. Melchiades aparece como senhor das terras Divisão, junto com sua esposa, num Edital de 10 de agosto de 1883, a mando do Dr. Francisco Pothier Rodrigues Lima, juiz comissário da comarca de Palmares, por nomeação do governo, e como eleitor de Canhotinho, em 4 de janeiro de 1896, num abaixo-assinado em prol do prefeito major Aggêo Cézar de Andrade. Marcolino é mencionado inúmeras vezes relacionado à segurança em Panelas, no século XIX.
Quando meu avô nasceu, em 1910, no sítio Palha (alcunhado Pachá no 1º Censo de Propriedades Rurais de 1920), o sítio Palha tinha apenas dois proprietários: o avô dele, Luiz Freire (proprietário 396 em Canhotinho) e Caetano Seraphim de Mello (proprietário 383). O sítio Palha pertencia, geograficamente, a Canhotinho, pois a emancipação de Angelim, onde minha mãe, Maria Freire (sítio Palha), e meu pai, Nelson Amaro (sítio Peri-Peri) nasceram, cresceram e se casaram, só aconteceria duas décadas depois.
Nós, da família, não temos certeza se meu avô sabia que era dono daquela propriedade, por herança de sua mãe, Maria Freire Macêdo, se Luiz Freire fez testamento ou se a mãe de meu avô, filha da panelense Caetana Cavalcante de Oliveira, tinha algum documento em mãos. Nós, da família, sabemos que, assim como em outros momentos na história de nossa família, meu avô precisou ser bem perspicaz para não perder o pouco que lhe deixaram ter...
Voltando a Panelas, segue a ata de criação do club Penellense Maciel Pinheiro:
Acta
Aos 29 dias do mez de Junho de 1890, na sala da casa que
serve de séde ao Club Maciel Pinheiro, reunidos grande numero de cidadãos
eleitores do districto de Panellas, depois de tocar-se o hymno nacional, que
foi ouvido de pé por todos os presentes, o cidadão Honorio Silva, que, por
indicação de muitos, assumio a presidencia da reunião, fez vêr a conveniencia
de se congregarem os elementos politicos deste districto, em uma associação
sinceramente republicana, filiada ao Club 22 de Julho da cidade do Receife,
cujos actos se pautassem pela direcção politica do Dr. Martins Junior e
adoptasse as doutrinas do manifesto de 10 de Dezembro de 1888.
1º Vice-presidente - Marcolino Cavalcante de Oliveira
1º Secretario - Professor Manoel Benigno da Silva;
2º Secretario - Capitão Manoel Albino de Mesquita;
1º Thesoureiro - Capitão Antonio Laurindo de Carvalho;
2º Thesoureiro - Jeronymo Cavalcante da Silva
Eleita a directoria, assumio a presidencia da sessão o
capitão José Matheus, que convidou a tomarem assentos o 1º e o 2º secretarios,
mandando proceder-se a leitura dos estatutos do Club 22 de Julho que, por unanimidade,
foram approvados como estatutos do Club; em seguida, agradecendo sua eleição, o
presidente, m termos habis, pedio aos cidadãos que alli estavam, fossem sempre
unidos e dovotados á causa republicana, honrando assim á veneranda memoria de
Maciel Pinheiro, nome que, só por si, deveira constituir uma gloria para o Club
que si installava.
Marcolino Cavalcante de Oliveira.
Manoel Albino de MEsquita.
Jeronymo Cavalcante da Silva.
Antonio Laurindo de Carvalho.
Hermegenildo Jacintho Cavalcante.
João Gomes de Mello.
Carlos José da Silva.
João José Damasceno.
Manoel José de Moura.
Manoel Guilhermino de Miranda.
José Valerio de Almeida.
José Gomes de Barros.
Luiz Francisco de Souza.
Euzebio de Miranda Galvão.
Francisco Costa.
Miguel Felippe de Moura.
Pedro Pereira da Costa.
Manoel Aureliano dos Passos Moura.
José Apolinario de Moura.
Nazario Valeriano da Costa.
João Anunes de Oliveira.
Caetano Cordeiro de Mello.
Francisco Ferreira Roque.
Francisco Pereira da Costa.
João Gomes de Freitas.
Joaquim José de Oliveira.
Avelino Rodrigues Pereira.
Manoel Rodrigues Pereira.
Eloy Marianno do Nascimento.
Martinho Barbosa de Souza.
Antonio Joaquim de Miranda.
Parisio José de Campos.
Patricio José Barbosa.
Manoel Pedro de Mello.
Manoel Francisco do Nascimento.
Feliciano José Treobaldo.
José Antonio de Mello.
José Rodrigues de Paula.
Caetano Vieira da Silva.
Angelo Pereira da Paixão.
Antonio Vieira de Paula.
Simplicio José Theobaldo.
Paulino José Raymundo.
Pedro Baptista de Baros Brazil.
Joaquim Manoel do Nascimento.
Simão Gomes da Silva.
Joaquim Correia de Oliveira Barros.
Francisco Antonio de Gouveia.
Joaquim Lopes Vieira.
Lourenço de Paula e Silva.
Heleodoro Ferreira de Mello.
Felix Ferreira da Silva.
Fulgencio Rogrigues Pereira.
José Felippe Barbosa.
Manoel Pereira da Silva.
João Felippe Barbosa.
Antonio Felippe de Moraes.
José Nobre Ferreira.
Delmiro José de Souza.
Manoel Gomes Bezerra.
Virgolino Ferreira da Silva.
Laurentino Capucho da Silva.
Antonio Correia Braga.
José Bernardo da Silva.
Manoel Antonio da Silva.
José Felix de Araujo.
Petrolino Soares Cavalcante.
Euzebio Francisco da Silva.
Estevão Barbosa de Araujo.
Manoel Cordeiro da Silva.
Simão Correia de Lyra.
Quintiliano Cavalcante de Oliveira.
Antonio José Gonçalves Pires Ferreira.
Francisco Rodrigues Lins de Albuquerque.
Joaquim dos Santos Junior.
Dinamerico de Oliveira Guimarães.
Antonio Barbalho Uchôa Cavalcante.
Manoel de Miranda Santiago.
Custodio Rodrigues de Meira Torres.
Patricio José Tavares de Vasconcellos.
José Francisco de Souza.
Antonio Bruno de Oliveira.
Melchiades Pulpinio Freire.
Felix José Vieira.
Joaquim Alves Wanderley.
José Antonio de Souza.
José Gomes da Silva.
Lucio José de Maria.
Manoel de Paula Vasconcellos.
João Candido de Mello.
João Francisco dos Santos.
Agostinho Francisco de Lima.
Renovato Barbosa de Moraes.
Sebastião Felippe Barbosa.
Manoel Antonio de Souza.
José Pereira da Silva.
Lourenço Bezerra.
Arsenio Bezerra.
Theotonio Bezerra Roque.
Antonio Caetano.
José Vicente Quimba.
José Antonio de Sá.
Manoel Jeronymo Cavalcante.
Manoel Francisco da Silva.
Felippe Barbosa de Moraes.
José Martins dos Santos.
Honorio Gomes de Lima.
Carlos Tiburcio dos Santos.
José Tiburcio dos Santos.
Antonio Alves da Silva.
João Alves da Silva.
Francisco de Assis Torres.
Francisco Lucindo de Figueiredo.
João Umbelino de Miranda Galvão.
Antonio Teixeira de Vasconcellos.
João Barbosa Teixeira.
José Joaquim Vianna.
Candido Pereira da Silva.
Miguel Alves de Moraes.
Francisco Soares Quintas.
José Rosendo de Andrade.
Manoel Nazario da Silva.
José Romualdo dos Santos.
José Francisco dos Santos.
Onias José Pereira.
João Francisco Cordeiro.
Antonio Claudino
da Luz.
Antonio Parisio
de Salles.
José Cordeiro de Souza.
Torquato Cordeiro de Souza.
José Francisco de Souza.
Vicente Benicio de Sobral.
Ignacio Benicio de Sobral.
Marcolino Ferreira dos Santos.
João Vicente Ferreira Simões.
Antonio de Barros Albuquerque.
José Leoncio da Silva.
Jacintho José de Barros.
Antonio de Barros e Silva.
Fonte: Jornal de Recife (PE) -
1858 a 1938
Recife - Sabbado 12 de Julho de 1890
Neste documento, o pai do avô - Luiz Freire - de meu avô materno, Melchiades Pulpino Freire, e o pai do avô da mãe - Caetana Cavalcante de Oliveira - de meu avô, Marcolino Cavacante de Oliveira, seus bisavós, um radicado em Canhotinho (Freire de Carvalho) e outro radicado em Panelas (Cavalcante de Oliveira), são mencionados no documento e com ideais republicanos.
E assim se estabelece meu vínculo com Panelas e sua gente! 💕
Everaldo José Freire
Aracaju-SE, 26 de março de 2021.
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